sexta-feira, julho 20, 2007

Dia do amigo!

# Historinha de detetive pra comemorar o dia do amigo... No fim da leitura, vocês entendem... :D
# Bjins!


Um par de brincos e um chaveiro chinês


_Não sei mais o que eu faço, Lucas _Raquel estava desconsolada. _Você sabe o quanto gosto daquele brinco. Ele sobreviveu aos meus descuidos da infância, não quero perdê-lo logo agora e de um jeito tão idiota. É óbvio que alguém roubou enquanto saímos da sala de aula, mas quem? Ninguém viu gente diferente entrando, então deve ser um aluno, mas... É tão inacreditável! Nunca pensei que alguém da nossa sala pudesse fazer dessas coisas.

_É, é meio estranho _Lucas falou, sério. _Dê queixa na polícia.

_Ah, não quero fazê-los perder tempo com um assunto tão banal. O brinco é bonito, mas não é caro. É mais uma questão de honra, mesmo.

_Então, contrate um detetive. Embora eu ainda ache que você deveria procurar a polícia.

_Detetive? Isso existe de verdade?

_Claro que existe! Eu até conheci um veterano de Psicologia que trabalhava como detetive. Ele já se formou, mas acho que continua com esse trabalho.

_Ah, não, o que eu quis dizer é se existem mesmo caras que investigam roubos, assassinatos, desaparecimentos e essas coisas. Sempre imaginei que os detetives de verdade passassem o dia inteiro seguindo pessoas, tirando fotos e gravando conversas.

_É, é o que mais fazem, mas o Lelé investiga qualquer coisa que você peça.

_Lelé?

_Desculpe. Alexandre. É que ele gostava de dizer que quem faz Psicologia é tudo lelé da cuca querendo resolver os próprios problemas psicológicos.

_Como eu contrato ele?

_Se ele não mudou o telefone do escritório, ainda tenho em alguma agenda lá em casa.

_E a consulta é cara?

_Ele só cobra se resolver seu problema. Também é uma questão de honra. E, cá pra nós, nunca o ouvi reclamar que estava sem dinheiro.


_Alexandre Matos, um seu escravo.

Ele curvou-se sorrindo. Raquel ficou sem saber o que dizer. Não sabia bem como esperava que fosse a aparência de um detetive, mas não imaginou que fosse um jovem arruivado e sorridente, com um olhar perspicaz que se tornava malicioso sem aviso.

Aliás, agora que reparava bem, havia suficiente semelhança entre ele e o rapaz que a atendera (ela julgou ser o secretário) para declará-los parentes. Isso e o fato de o escritório ser numa pensão fizeram-na ficar desconfiada de que Alexandre podia não ter problemas de dinheiro, mas bem de vida é que não estava.

_Então, minha cara? Você disse que quer meus serviços para cuidar de um roubo. O que foi roubado? Quando, onde, como? Perdoe-me o afã, mas faz séculos que não tenho nada mais interessante para fazer que cuidar de adolescentes rebeldes e casos de divórcio.

Ela voltou subitamente à realidade e explicou:

_Foi na semana passada. Eu tenho um par de brincos que não são exatamente jóias, mas podem ser confundidos com. Ganhei de presente da minha mãe quando eu tinha seis anos. Na terça, fui pra faculdade com ele. Tirei pra experimentar um dos brincos que uma amiga minha estava vendendo e pus na mochila. Acabei me esquecendo de colocá-lo na orelha de novo. A mochila ficou na minha carteira e saí para comprar alguma coisa na cantina. Quando voltei, quis pôr os brincos e eles não estavam lá. Sei que é uma bobagem completa, que ninguém teria tanto trabalho com uma coisa que pode comprar por trinta reais ou menos, mas ele tem valor afetivo, entende? Minha mãe já morreu e é uma das poucas lembranças que tenho dela. Pelo que pude descobrir, ninguém diferente entrou na sala, então foi um dos meus colegas. Por isso achei que...

_... Não fosse assim tão impossível descobrir o ladrão? Bem, bem, bem, acho que será um prazer.

_Ah, sim. Isso estava no chão da minha carteira. Não sei se quem deixou cair foi o ladrão ou não, mas não estava antes e ninguém reconheceu.

Alexandre pegou o chaveiro com todo o cuidado e observou-o com atenção. Era um chaveiro ordinário de metal, em forma de símbolo chinês, com uma chavinha pendurada. Um rápido brilho passou pelo olhar dele, que se levantou.

_Excelente, menina, excelente! Por favor, anote aqui a sala em que você perdeu, a aula que estava assistindo, a data, o horário, tudo. Aliás, que curso que você está fazendo?

_História.

_Certo. É colega do Lucas, foi o que me disse? Bom sujeito.

_E quanto aos... Aos preços?

_Não se aflija. Prometo-lhe que meus honorários não superarão o preço do brinco, se chegar a tanto. Esse não parece ser um caso dispendioso e a UFMG está a poucos minutos de distância daqui. Volte para casa e relaxe. Manterei você informada.


Raquel nunca imaginou que seria “mantida informada” daquela forma... Na terça-feira, rememorava os fatos do roubo antes que começasse a aula, quando alguém com um buquê de rosas entrou na sala. Perguntou algo a uma menina da porta e se encaminhou para onde Raquel estava.

O que a deixou pasma é que o entregador era ninguém menos que Alexandre, com um boné e uma camisa com um nome de floricultura.

_O que está fazendo aqui? _perguntou ela, entre os dentes.

_Um bico, ué! Quando a gente é muito seletivo com os casos que aceita, tem que fazer grana em outros setores... _riu. _Brincadeira. Só quis conhecer o terreno. Onde vocês estavam conversando?

_Ali _apontou a mesa da professora.

O detetive olhou pensativamente para lá.

_Sei... _suspirou. _Ah, eu queria realmente impressionar você com grandes deduções e feitos quase literários, mas temo que o fim desse caso vá ser simples e algo decepcionante...

_Pra mim, só de você encontrar o brinco, tá bom _Raquel disse, meio sem jeito. _Aliás, já estou achando que pedi demais, isso é, tanta dor de cabeça por nada...

_Trabalhar para uma moça bonita nunca é dor de cabeça, minha cara _ele balançou o indicador com um olhar malicioso. _Já vou indo, tenho trabalho a fazer.

Raquel corou um pouco enquanto ele se afastava. Não tinha notado antes, mas o diabo do detetive tinha um sorriso muito charmoso.


_Que bom que pôde vir! _Alexandre sorriu. _Tenho uma nova peça no caso, não sei se você reconhece isso...

Entregou algo embrulhado em papel de seda a Raquel. Ela soltou um gritinho de satisfação.

_Meu brinco! Mas como...

_Eu não devia contar... _ele suspirou. _Mas você é minha cliente, tem o direito de saber. Eu coloquei o chaveiro nos achados e perdidos e vigiei. Quando o dono veio pegar, apenas pressionei um pouco e ele cedeu.

Raquel emudeceu por alguns instantes.

_Agora que você falou... É tão simples que estou envergonhada de não ter pensado nisso antes!

_Bobagem. Meu trabalho não é fazer deduções mirabolantes do nada, é pensar naquelas coisas simples que todo mundo esquece.

_Mesmo assim, foi um grande trabalho. Quanto devo?

_Nada. Você é que fez o favor de me tirar daquele tédio.

_Mas eu insisto! Depois de toda essa trabalheira...

_Não, não posso te cobrar. Mas, já que insiste... Pode pagar com um favor.

_Diga.

_Será que não me acompanha num jantar hoje há noite? Não queria ir sozinho ao restaurante mais uma noite.

“Por que não?”, ela pensou. Seis meses são tempo o suficiente pra ficar solteira!


_Hoje, oito da noite, Churrasquinho do Manoel. Pode me passar a grana.

_Droga! Como você consegue? Ela já está há seis meses sem encontro!

_Eu disse que se você pegasse alguma coisa dela pra servir de pretexto pra minha entrada ia dar certo. Não fiz Psicologia à toa. Ah, em tempo, Lucão... _atirou um chaveiro para ele _jogue fora esse negócio, não quero destruir amizades.

_Você é o detetive mais imoral que eu conheço, Lelé!

_Imoral por quê? Não cobrei dela, ela terá a melhor noite dos últimos seis meses e ainda vou fazer seu cartaz! Admita: eu sou o cara.

Lucas ficou sem saber o que falar. Jogou fora o chaveiro com símbolo chinês, pensando se contratar Alexandre tinha sido, no fim das contas, um bom negócio.

2 comentários:

Dado Pires disse...

Reitero que prefiro o texto sem a introdução. Realmente flui melhor. Vai direto ao ponto. Apesar de ficar faltando, nesse caso, aquela referência inicial ao Alexandre estudar psicologia. Nada tão relevante ou de difícil solução.

De qualque maneira é um texto muito bom, Strix Xirts! Continue morcegando... ou melhor, corujando por aí!!!

Unknown disse...

Oláaaaa.

Continue corujando srta. Strix.
Sou seu fã.

Bjaum.