sexta-feira, março 30, 2007

Diário de viagem - 1

# Hey, povo! Andei um tempo sem atualizar, né? Mas posso jurar que foi por um bom motivo! Ou melhor, beon motivos. O primeiro é o retorno às aulas, que me deixou com pouco tempo pra escrever. Além disso, eu andei dando prioridade a meu lugarzinho no Recanto das Letras, que necessitava de cuidados imediatos. Pra desenferrujar, estou postando meu diário de viagem a Itaoca/ES, a primeira praia que visito. Fui nesse Carnaval.
# Pra quem não sabe: Minha família - pai (Roberto), mãe (Rosemare), Patrícia (irmã do meio), Lucas e Mateus (gêmeos, os caçulas), Vó Nenega e Jimmy (o poodle branco).

16/02

5h30min: acordei com o despertador do celular. Estou com o nariz entupido e a garganta doendo. Belo dia para se ficar resfriada!
6h: Já deveríamos estar na estrada, mas estamos esperando pelo carro em que vou, em frente à Cabana da Mantiqueira.
7h: Finalmente partimos. Estou com o Paulo, a Vivi, a Néia e o Eduardo. Uma vela no meio de dois casais. Pelo menos eu os conheço há bastante tempo e a Néia nos faz rir a cada curva.
Em torno de 9h: Estamos presos no trânsito de Juiz de Fora. Maldição! Mesmo quando você é contra tudo o que simboliza o Carnaval, mesmo quando foge dessa que é uma orgia em mais de um sentido, acaba prejudicado por ele. Nesse caso, a instalação das arquibancadas é que embananou o trânsito.
Mais de dez horas: Já deu pra perceber que estou sem relógio, né? Até trouxe o celular, mas ele está no bolso da calça e eu teria que me contorcer toda para tirá-lo. Sei que são mais de dez horas porque vejo o primeiro desenho da TV Xuxa passando dentro do restaurante. A bexiga da Néia não suportou mais tempo sem paradas, por isso, acabamos de descer. O banheiro é horrível. O chão é molhado e malcheiroso, dá pra imaginar de quê. Ganhei um Cheetos da Hello Kitty, saiu um dos chaveiros que eu estava querendo.
Hora indeterminada, talvez onze e qualquer coisa: o tradicional mar de morros de Minas torna-se cada vez menos suave. Em determinado instante, cruzamos a frontira do Rio de Janeiro. Curioso. A gente espera que algo mude quando passamos de um Estado para o outro, quase como se esperasse que o próprio vento chiasse os SS. Mas a paisagem não mudou grandes coisas. Puxa, o povo gosta desse gado branco!
Cerca de meio-dia: Parada para almoçar em Itaperuna. Mesmo que eu não soubesse que estamos no Rio, perto de Minas, logo descobriria: alguns chiados condenam os fluminenses, mas o “logo ali” com que um homem qualificou um restaurante é tipicamente mineiro. Andamos um bocado.
Hora indeterminada: Estamos atrás de quatro caminhões. Perdi a noção do tempo. Eles andam a 60 km/h, é de enlouquecer! Levamos séculos, mas finalmente chegamos ao Espírito Santo.
Mais tarde: os paredões estão cada vez mais em pé. Vi uma rocha parecida com um chapéu de bruxo com a pontinha caída. Se eu fosse um daqueles exploradores que dá nome às coisas, chamaria o morro de Chapéu Seletor. Claro que, no futuro, ninguém entenderia bulhufas, a menos que minhas esperanças de que Harry Potter não seja apenas literatura de consumo que some com o tempo se concretize. Depois, a Vivi me mostrou o Dedo de Deus. Não sei se foi o ângulo que vimos, mas não me pareceu um dedo, a menos que Deus tenha uma verruga na junção da unha com o dedo.
Perto de 16h: voltei a ter noção de tempo. Entramos na Rodovia do Sol. Vivi disse que eu veria o mar em vinte minutos, mas tenho a impressão de que já rodamos bem mais. Os morros estão ficando mais suaves de novo. Até agora o único mar que vi foi o de cana. O paraíso dos diabéticos, pra não dizer outra coisa. Estou de olho no horizonte para tentar ver o surgimento do mar. Pode aparecer a qualquer instante.
16h20min: Vivi me apontou uma faixa azul-acinzentada entre dois prédios. É minha primeira visão oficial do mar. Nem todos os anos de filmes e fotos do mar me prepararam para a primeira visão ao vivo dele. Não que tenha sido uma visão apaixonante. O mar de Marataíses não é azul-marinho, é um azul-cinzento feioso. (Agora veio a parte boa de eu estar começando a gripar: não senti o cheiro da maresia...) Depois de muito rodar em Itaoca, achamos a pousada. Meu corpo está ruim, só quero me deitar e ficar quietinha.
17h33min: acabei de passar água no corpo. Estou melhor. Mâmi e pápi estão chamando, querem dar uma voltinha. Fomos à praia. O mar agora está bem mais bonito. As pedras são lindas.
18h: Tive meu primeiro contato com o mar. A água fria bateu no meu pé, enchendo-o de areia. Quando a água voltou, a areia começou a ser carregada e cheguei a acreditar mesmo que ia cair. Depois de um tempo, passei a gostar. Fomos a uma parte da praia cheia de conchinhas e algas. Catei várias conchinhas. Não tive remorsos, já que o mar as dissolve com o tempo. Enchi um dos bolsos, elas são tão lindas! Posso usá-las para fazer figuras de animais com conchas e fotografar. Ou, na pior das hipóteses, conchas são boas marcadoras de cartelas de bingo.
20h26min: tomei banho e lavei as conchinhas. Tive a impressão de que uma delas ainda tem seu morador, mas pode ser só areia que a está fazendo pesar. Amanhã, veremos. Ah, sim, não contei, mas jantamos sanduíches na pracinha. O povo tomou sorvete, mas minha garganta me proibiu. Talvez por isso eu já estivesse saltando essa parte.
21h35min: o povo quer assistir DVD. Um tal de “Minha Super Ex-namorada”. Comédia romântica. Droga. Pelo menos é uma boa hora pra pôr o diário em ordem.
22h50min: Uma barata caindo do meu lado e outra no caminho para o quarto me deram o maior susto. Agora, estou cismada e acho que não vou conseguir dormir.

17/02

5h51min: Ledo engano. Dormi profundamente e acordei sozinha. Ainda está escuro e volto a pensar que pode haver baratas à espreita.
7h15min: Depois de cochilar um bom pedaço, hora de acordar, pôr o biquíni e se besuntar de protetor solar.
8h20min: Finalmente chegamos à praia e estamos prontos para entrar no água. O mar decidiu se vingar de mim por eu ser a única a não ter provado seu sal ainda. Acabei ficando para trás na hora de entrar, e, como previ ontem, levei uma baita lambada da arrebentação. O mar é menos salgado que pensei. Parece água com bicarbonato, que a gente toma quando está com gases.
Ainda no mar: Andar na água sem apoio é uma experiência que não aprecio muito. Você tem a impressão de que vai cair sentada e, como não sei nadar, fico morrendo de medo de não conseguir colocar a cabeça para fora da água (o que aconteceu na primeira vez que entrei na piscina).Estou aprendendo a pular ondas. Não que seja indispensável, só de ficar de lado ela passa, mas pular é mais legal. Claro que ainda levo uns tapas do mar no rosto.
11h47min: Ficamos sentados depois da arrebentação. Enchi o biquíni de uma areia que não sai depois, mas é tão bom ficar ali... Enquanto o mar vai, dá pra pegar conchinhas nessa hora do dia. Quando ele vem, posso lavá-las.
14h31min: estamos de volta à pousada. Pat e eu vamos dividir o PF. Sei que é uma pobreza danada, mas não dou conta de um PF inteiro. Eles são para gente que trabalha duro de sol a sol. Pensei que hoje eu iria quebrar meu recorde de almoçar tarde, mas ele ainda é de 15h.
15h40min: nada a declarar, tirando uma vespa E-NOR-ME que está voando no teto. Que Deus nos proteja!
16h26min: Saímos para passear um pouco, mas mal demos uma volta no quarteirão, Néia teve que ir ao banheiro. Itaoca tem umas cores de hibisco lindas e uma enorme quantidade de poodles. Vimos, inclusive, uns que são mestiços com Teckel (“salsichinha”), uma mistura bizarra que deu cães alongados com pêlos crespos e pompons nas patas.
17h03min: Voltamos à praia. O vento está forte e frio e as ondas estão bem mais altas. O mar quase fez a vontade de muita gente: eu estava de mãos dadas com a Pat, quando uma onda particularmente alta (mais que eu. Tudo bem, isso não faz dela tão alta...) nos desequilibrou. Aproveitando a mão da Pat, consegui ficar de pé e colocá-la em pé de novo. Como o Mateus também já tinha engolido sua cota de água, saímos. Decidi não entrar de novo por hoje e procurei um queijo empanado (um trem bom demais da conta!), mas acho que vou ficar aguada por hoje. Comi um milho verde, mas não é a mesma coisa, tem sabor de prêmio de consolação.
20h11min: Saímos para comer pizza. A pracinha de ontem estava lotada, por isso, comemos em um restaurante. O ambiente estava bom, descontando a baratinha e o grilão verde (droga, só não tem insetos nos pólos, mesmo). O garçom que nos atendeu era um rapaz assim meio lento... meio zen... O Paulo e o pai quase o deixaram louco com as exigências (não tinha pizza sem carne, olha que absurdo). Quando o tom do Paulo começou a diminuir (a voz é proporcional ao tamanhão dele) e começamos a rir, o rapaz ficou mais confiante. Tentou até, muito disfarçadamente, puxar conversa com ele, mas desistiu logo. A Néia disse que foi porque sorri meigamente para ele. Ela não viu, mas ele sim, a faca de corte na minha mão enquanto ríamos.
21h56min: Voltamos pela praia. Dá pra ver um farol piscando na ilha lá longe. O mar agora é uma massa escura. O Eduardo achou um caranguejinho branco e se atirou sobre ele para pegá-lo. Uns rapazinhos tentaram fazer o mesmo, mas eles não têm a experiência do nosso “turista americano” (Eduardo se veste igual a um, e é todo branquelo).
22h46min: Chegamos em casa. Estou pregada.