quinta-feira, abril 26, 2007

Mansão ACBR - 1/4

# Eu já devia ter postado antes essa minissérie em 4 capítulos, mas por esquecimento puro e simples, fiquei devendo... -__-"
# Claro que quem não pertence à ACBR e não conhece seus memoráveis participantes (kkk!) não poderá entender onde estão todos os pontos de humor do texto, mas acho que a sem-noção da Strix (a garota loirinha que magnanimamente permite que eu use seu nome) já atende as necessidades mais imediatas de "cócegas no cérebro".
# Com vocês... A Mansão!

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A Mansão ACBR

Explicações para quem não conhece a ACBR

# ACBR é a abreviatura de Agatha Christie Brasil. É uma lista de discussão do Yahoo! Grupos que se dedica a discutir as obras da grande Dama do Crime e, eventualmente, outros autores policiais. A lista é carinhosamente tratada como “Mansão” e seus moradores podem sobreviver por dias, meses ou anos, desde que tenham a sorte de não beber o Sirop de Cassis envenenado. Em homenagem a esse ambiente tão divertido e querido para mim, compus esse pequeno conto. Os nomes de praticamente todos os personagens são nomes de integrantes da lista, embora a descrição física, psicológica, profissional não seja rigorosamente verdadeira, assim como a ficha criminal de cada personagem.

Breve comunicado aos aceberianos

# Os nomes dos personagens foram atribuídos, há alguns meses, com base na quantidade de e-mails que cada um enviou para a lista no período que analisei. Espero que ninguém fique triste se o personagem com seu nome só tem uma fala ou se faz o papel de “arbusto” ou “estante de livros”. Se alguém não tem seu nome citado aqui, provavelmente não havia entrado na lista na época. Mas não significa que não esteja na história. A ala oeste sempre está lá, abrigando os fantasmas da lista e outras criaturas que talvez não queiram se identificar...

Parte 1 – A Mansão do Crime

# Luky acabou de espanar a sala de estar e sentou-se, exausta. Outra Luciana, a Naomi, chegou com uma vassoura e também se atirou em uma poltrona. Por fim, Luciana Bertini entrou com um escovão e caiu em uma terceira poltrona, tão exausta quanto as outras. As três eram primas, e a família delas não tinha muita criatividade para nomes.
# _Precisamos contratar um mordomo, uma faxineira e uma cozinheira logo, Luky! _reclamou Lu Naomi.
# _Não podemos fazer o todo o serviço na Mansão e duvido que algum dos outros aceite fazer! _apoiou Lu Bertini.
# _Mas vocês sabem que sempre foi difícil arrumar empregados para cá, e ficou mais ainda depois do... incidente.
# As três respiraram fundo. Pelo menos, por aquele dia o serviço estava feito, e feito antes dos outros chegarem.

Três anos antes

# As três jovens Lucianas entraram em um café e se sentaram, cabisbaixas. Fizeram o pedido e só depois de sorverem alguns goles do revigorante líquido escuro se animaram a falar.
# _É tão difícil acreditar que o tio Leo Lopes... morreu.
# _Ele era tão bom pra nós...
# _Tão inteligente... O maior criminalista da Europa!
# Suspiraram.
# _Nós três juntas herdamos as relíquias de crimes do tio, a Mansão ACBR e uma quantidade de dinheiro _começou Lu Bertini. _O que vamos fazer com isso?
# As três tinham empregos satisfatórios e estavam muito bem de vida. A família delas era muito rica, por isso, não sentiram necessidade urgente de transformar toda a herança em dinheiro e colocar na poupança.
# _Hummm... _começou Lu Naomi. _Que tal montarmos um museu do crime?
# Luky torceu o nariz.
# _Um monte de pessoas entrando, falando baboseiras e mal escutando o que o guia tem pra falar? A ACBR tem atmosfera, gente. É uma mansão vitoriana em que aconteceram os mais curiosos e sangrentos crimes. Ficaria estéril depois de um ou dois meses de visitação.
# _Então o que sugere? _retrucou Bertini, curiosa.
# _Que tal um hotel?
# _Quem está falando de destruir atmosferas agora?! _Naomi perguntou, triunfante. _Dividir os quartos, abrigar um bando de gente estúpida, com crianças piores ainda... Você endoidou, Luky?
# _Não, não é nada disso. Não estou sugerindo um hotel como outro qualquer. Montaríamos nele um museu do crime, como a Lu sugeriu, mas com acesso apenas para os hóspedes. Estes não poderiam ser qualquer um. Exigiríamos apenas pessoas solteiras, por exemplo. E um dos cômodos poderia ser uma espécie de Diógenes, onde ninguém pode conversar. Além disso, faríamos uma entrevista com o hóspede antes de aceitá-lo, para ver se ele se enquadra. Só abriríamos nas proximidades do Natal, é claro.
# _Por que do Natal?
# _Essa época tem uma atmosfera bem própria. É inverno, e tudo o mais. Desde o dia 26 até pouco depois do Ano Novo, poderíamos abrigar corações solitários, sedentos de crimes e... atmosfera. Não abriríamos por mais tempo que isso, para não criar muita intimidade entre os hóspedes e ficar sempre aquele clima de mistério. Podíamos abrir também na Páscoa, mas sem ser por muitos dias, também.
# _É... _disse Lu Bertini, sonhadora. _Pode até dar certo...

# As três empregaram parte da herança para reformar alguns setores da mansão e montar o pequeno museu com as relíquias de crimes. Em abril, colocaram o anúncio para a primeira temporada de dezembro. Durante um mês esperaram sem que ninguém respondesse. Em meados de março, porém, tiveram o primeiro pedido de reserva. Era um nobre, Sir Pete Daniel Death, velho desconfiado e meio ranzinza, mas cujo título fez com que as três Lucianas achassem que ele combinava com o ambiente da mansão.
# Menos de uma semana depois, um repórter policial relativamente famoso em Londres (nem sempre uma boa fama) fez sua reserva. Mr. Samael Darcângelo também passou no crivo das três por seu conhecimento do mundo do crime.
A partir daí, começaram a aparecer várias reservas. As três levaram um susto ao receber resposta de uma antiga conhecida: Sabrina Baltor (por algum motivo conhecida como Tuppence), uma universitária que estudava Letras na França. Passaram o primeiro dezembro com número razoável de hóspedes.
#
# Na Páscoa, quase todos os hóspedes voltaram. Haviam descoberto uma paixão comum por livros policiais, que quebrara o desagradável gelo inicial, embora todos se mantivessem reservados.
# Foi no segundo dezembro do hotel que coisas realmente desagradáveis começaram a acontecer.

Um ano antes

# Em outubro, em plena noite do dia 31, um homem tinha marcado um encontro com elas para tratar da reserva. Devia estar próximo dos quarenta, era loiro de olhos azuis celestes, maçãs do rosto repletas de sardas e um sorriso suave e cansado. Quando falou, tinha um sotaque pronunciadamente alemão.
# _Boa noite. Sou Alexander Van Allen. Gostaria de fazer uma reserva e uma proposta um tanto incomum. Espero que não me julguem demasiado louco por formulá-la.
# O magnetismo pessoal do Sr. Van Allen e a palavra “incomum” desculparam previamente qualquer proposta bizarra que ele pudesse fazer.
# _Pode propor, Herr Van Allen. Prometemos, pelo menos, não rir _respondeu Luky, com a devida solenidade. As outras duas confirmaram.
# _Obrigado _sorriu._É simples. Quero reservar um quarto e comprar outro.
# _Comprar? _Luky arqueou as sobrancelhas.
# _É que pretendo transformá-lo em um pequeno laboratório. Talvez seja mais apropriado dizer um pequeno ervanário, um lugar para se fazer pequenas experiências com misturas de ervas e ingredientes bizarros. Alquimia, bruxaria, um pouco de química... Coisas assim. Ah, e também há uma coleção de venenos que já foram usados em crimes, se não se importarem.
# Os olhos das garotas brilharam.
# _O senhor se interessa muito por esses assuntos, Herr Van Allen?
# _Não, eu não _explicou, divertido. _Ainda não mencionei que a reserva é para a minha filha, Strix, não é? Ela só tem 17 anos, por isso não pôde tratar do assunto pessoalmente.
# As três desanimaram um pouco. Bolas! Uma adolescente!
# _Senhor, nós não aceitamos crianç... adolescentes no hotel.
# _Strix é uma boa moça. Alegre, mas muito ajuizada. Não vai dar trabalho a vocês, pelo menos se eu puder conseguir que me vendam o quarto que pedi. Uma vez dentro de seu laboratório, não a verão com muita freqüência. Não se preocupem, ela ainda não é capaz de transformar ninguém em sapo... Mas conhece um xarope muito bom contra resfriados. Farei as reformas cabíveis antes da temporada, não é muita coisa. Por favor... Não sabem o quanto é difícil encontrar um lugar com a atmosfera adequada para ela nessa época do ano...
# Havia algo no olhar dele que fazia parecer uma maldade recusar-lhe algo. Confabularam em voz baixa e decidiram que uma colecionadora de venenos não poderia se destoar tanto do ambiente da mansão.
# _Muito bem, Herr Van Allen _respondeu Luky. _Aceitamos sua proposta. Vamos decidir os detalhes.

# Em dezembro, quase todos os hóspedes já conhecidos e mais algumas caras novas se apresentaram à mansão. Não foi difícil reconhecer Strix, tirando pelo fato de ter cabelos compridos, era praticamente igual ao pai. Entrou cheia de malas e com um ar de inocência que a fez parecer ainda mais nova do que realmente era.
# O então mordomo se oferecera para ajudá-la com as bagagens.
# _Não precisa _respondera, com um ar encantador. _Estão levinhas, olha só.
# Entregara uma mala ao mordomo, que não suportou o peso dela e se estatelou no chão. Sempre sorrindo, a garota a pegara de volta e subiu até seu quarto com desembaraço.
Como o Sr. Van Allen previra, Strix se trancava no laboratório e só saía no intervalo entre o jantar e a ceia, quando se misturava à confraternização da sala de estar, conversava com todos e voltava ao laboratório, de onde só era ouvida saindo altas horas da madrugada.
# O incidente se dera nos últimos dias da estação. A garota anunciara a Luky que iria passar a virada do ano com seus pais, na fazenda de um parente distante e estaria de volta antes de amanhecer. Antes de sair, no dia 31, preparou uma fornada de biscoitinhos e explicara que era tradição em sua cidade natal comer um na última badalada da meia-noite, para dar sorte. Deixara-os cobertos por um paninho e saíra, com a recomendação que todos da mansão experimentassem na virada.
# Quase todos experimentaram, inclusive o mordomo e uma camareira. Passaram violentamente mal depois: o que parecia açúcar polvilhando os biscoitos era arsênico.
Strix jurara de pés juntos que nada fizera de errado com os biscoitos. Apesar de sua veemente negativa, seria considerada culpada se um testemunho não mudasse tudo. Mr. Darcângelo, logo que melhorou o suficiente para ser interrogado, declarou que, logo que Strix saíra de casa, ele não resistira à tentação e comera um biscoitinho e não passara mal. Nada mudou seu depoimento. As investigações recomeçaram, mas não deram em nada. Relutantes, as autoridades fecharam o caso.
# O resultado da brincadeira de mau gosto foi amargo: os empregados se demitiram, nenhum outro aceitara trabalhar na mansão e vários hóspedes não quiseram mais voltar. As Lucianas já estavam pensando em fechar o hotel, mas foram ajudadas pelos hóspedes mais fiéis. Sabrina foi quem ajeitou tudo ao perguntar: “Por que todo mundo está tão chocado por ter acontecido uma tentativa de envenenamento na Mansão do Crime, por excelência?” Graças ao argumento, o que poderia ser publicidade negativa serviu como uma espécie de seleção natural: só os realmente aficionados por mistérios e pelo ambiente da mansão fizeram reservas para o dezembro seguinte.

# De volta ao tempo presente

# Luky tinha sido tacitamente escolhida como gerente do hotel. Era quem cuidava do site dele, quem procurava empregados, quem tinha aquelas conversas chatas com hóspedes inconvenientes e quem ficava à porta da Mansão recebendo os hóspedes no primeiro dia.
# Essa última tarefa era relativamente fácil: só um horário de trem levava pessoas até a vila nas proximidades da mansão, e era quase impossível chegar a essa vila de carro. Pois é. Estradas ruins existem até em países de primeiro mundo. Todos chegavam praticamente juntos. O triste era o frio. Naquele 26 de dezembro estivera nevando de manhã, agora tudo estava parado. Duas corujas cinzentas estavam numa das árvores próximas, fazendo o único ruído daquela imensidão branca.
# Lorde Pete Death chegou primeiro, num táxi pego na vila. Olhou para Luky com aquele olhar desconfiado e entrou, com um “Boa tarde” ríspido. Olhou em volta, atrás do empregado que ficaria responsável pelas malas, mas foi Lu Bertini que foi até o táxi buscá-las.
# _Cadê o mordomo? _perguntou ele, com a desconfiança aumentando ainda mais.
# _Não conseguimos mordomo para essa temporada, Pete _Luky esclareceu, procurando não mostrar constrangimento. _Não se preocupe, a Lu cuida de sua bagagem.
# _Nada disso _ele disse, ríspido. _Essas bagagens estão pesadas demais para uma moça. Largue aí!
Lu Bertini largou-as sem saber o que fazer. Sir Pete pegou as malas e subiu a escadaria principal, taciturno. Luky voltou a seu posto. Logo, um novo táxi surgiu, dessa vez com quatro passageiros.
# Tuppence saiu primeiro, conversando animadamente com Adriano Nehujar, vulgo Mitáfilo. Algo a respeito de músicas, ou poesia, talvez, já que ele era o guitarrista e compositor de uma banda. Lisa e André desceram logo depois. Os dois olhavam um para o outro, meio constrangidos. Ela editava livros e ele os escrevia. Desde que se conheceram no hotel, no ano anterior, haviam se encontrado várias vezes. Profissionalmente, é claro.
# Entraram cumprimentando as Lucianas. Tuppence interrompeu no meio a conversa com Mitáfilo para perguntar a elas como estavam, se tinham feito alguma reforma na mansão, se chegariam muitos hóspedes novos... Lu Naomi e Lu Bertini aceitaram a conversa de bom grado, e o músico, percebendo que ficara no vácuo, tratou de subir com suas bagagens.
# O próximo táxi chegou antes de o anterior sair. De lá, saíram Fran, Zaira, Mônica e Samael. As três tinham o olhar inconfundível das garotas que tinham recebido uma cantada de pedreiro. O repórter saltou do carro e se ofereceu, galantemente, para levar as bagagens delas, mas as três, com olhares gélidos, pegaram suas malas e entraram sem se dirigir a ele.
# André piscou para Samael, quando esse entrou. Fez um três com a mão e um gesto que simulava uma risada. O repórter levantou um pouco a camisa para mostrar o cabo de um facão e o outro engoliu o riso.
# O quarto táxi deixou Pandora, Tiago, Flávio e Luís. Luky cumprimentou-os, como fez com os outros.
# _Já chegou todo mundo, Tiago?
# _Dos que desceram do trem só falta um. Hóspede novo, não me lembro de tê-lo visto antes. Ele não quis se apertar no táxi com a gente, está vindo de moto.
# Falando nele, Júnior acabava de parar a moto bem em frente à porta de entrada.
# _Tem um lugar pra eu estacionar ela? _perguntou, sem saber a quem se dirigir.
# _Pode deixar em um dos estábulos antigos _disse Luky, prestativa. _Contorne a casa, vai ver um deles.
# _Valeu!
# Um pensamento intrigou Luky. Parou Luís, que ia subindo com sua bagagem.
# _Espera, está todo mundo aqui, mesmo? E a Strix? Vocês a viram na estação?
# _Não. Ano passado, ela também não veio de trem. Não sei como faz para chegar aqui, não tem outro caminho.
# A gerente ficou mais um tempo de pé, esperando. Strix confirmara sua reserva. Mas a história do trem era estranha. Será que algum imprevisto a fizera desistir? Ou será que os pais não a quiseram liberar por causa dos acontecimentos do ano passado? Júnior entrou esbaforido, depois de ter feito a pé e com mochila o caminho de volta dos estábulos.
# “Cadê a Strix?”
# Esperou mais cinco minutos e nada. Começava a nevar de novo. Cansada, Luky, deu as costas para entrar.
# _Espera!!!
# A garota, com toda a sua malaria, avançava com dificuldade pela neve. Usava muito mais agasalhos que o necessário, ficando menos ágil.
# _Por onde você veio?
# _Boa tarde, Luky! Desculpe a demora, papai não quis me liberar até o último instante... Amolação!
# _Você veio no trem? _insistiu a gerente.
# _Não... _respondeu ela, vagamente. _Ah, eu tive que trazer um bichinho esse ano. Ele pode ficar aqui fora? É que o tio Henry não quis ele na fazenda de jeito nenhum.
# _Depende do bichinho... _ela já estava apreensiva.
Strix assoviou e um enorme cão preto saiu correndo pelo caminho que levava à Mansão e pulou o muro. Não pertencia a nenhuma raça, e o mais assustador é que, se ficasse sobre duas patas, teria quatro metros das patas de baixo à ponta do focinho. Sua aparição chamou a atenção das pessoas na sala de estar, que correram à porta para vê-lo. Orgulhosa, Strix acariciou o pescoço do cão, que apoiou carinhosamente a cabeça no ombro dela.
# _Esse é o Basil, não é um doce? Estava perdido na charneca do lado da fazenda do tio Henry Baskerville. Normalmente, nós o deixamos no castelo quando vamos viajar, mas esse ano nosso caseiro adoeceu... Posso deixá-lo no velho celeiro?
# Luky não sabia o que responder. Apenas balançou a cabeça e a menina apressou-se a conduzir o cachorrão. Voltou poucos minutos depois, sorrindo.
# Primeiro, venenos. Agora, um enorme cão preto. Aquela garota ainda acabaria com a Mansão ACBR.
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# Lu Bertini entrou na sala de estar com uma bandeja de chá e Zaira, com outra. Zaira se prontificara a fazer o chá das cinco, ao saber da falta de empregados. Nada a fizera mudar de idéia e, como Strix se oferecera para ajudar caso ela não quisesse, Luciana teve que aceitar a ajuda da professora. Aproveitaram o chá para discutir amenidades.
# _E então, André, seu livro novo sai ou não sai? _Tiago perguntou.
# _S-Sai, é que... Sinceramente, acho que não está tão bom ainda, Preciso mudar algumas coisas...
# _Não liguem pra ele! _Lisa cortou, divertida. _Fica dando uma de inseguro, mas a gente sabe que está ótimo. Tem até um conto baseado no incidente do ano passado.
# _Que legal! _Strix bateu palmas. _Um dos exemplares é meu e ninguém tasca! E eu o quero autografado! E se eu for culpada de alguma coisa no livro, quero dois!
# André corou violentamente, uma vez que a personagem equivalente a Strix, de fato, era a culpada.
# _Tudo bem, tudo bem, ele dá três e não falamos mais no assunto, tá? _socorreu Lisa.
# A garota e outros na sala olharam maliciosamente para Lisa, que desconversou:
# _Por que você não traz seu violão e toca alguma coisa pra gente, Mitáfilo?
# _Pregui... _o músico cabeludo reclinou-se mais em sua poltrona.
# _Preguiça, nada! _Flávio protestou, de bom humor. _Estamos esperando pra ouvir seu novo sucesso ao vivo! Afinal, não sabemos quando você vai ficar tão famoso que não tenha mais tempo pros amigos... Temos que aproveitar!
# _Ei, eu sou famoso. Só não sou mais porque gosto dessa vidinha sossegada...
# _A gente sabe _Tuppie piscou.
# _Cadê a Fran, a Pandora, o Luís e o Júnior? _perguntou Lu Naomi, que ainda estava com uma bandeja de chá, andando pelos cômodos. _Não os vejo em lugar nenhum...
# _Estão na sala de jogos, jogando bridge _esclareceu Luky, entrando com um monte de papéis. _Estou atualizando as fichas dos moradores, aquelas que ficam lá na Área Restrita da Mansão, e preciso fazer algumas perguntas...
# Uma estranha tensão invadiu a sala. Todos, por um motivo ou outro, haviam mentido em algum campo da ficha.
# _Primeiro vocês dois... Flávio ou Tiaguinho: a Dickson & Hastings continua com o mesmo telefone que vocês me deram? Eu queria contratar os serviços de vocês para os assuntos legais da mansão, mas ninguém atendia...
# _O telefone andou com problemas _Tiago respondeu, sem jeito, lembrando-se do assédio dos cobradores.
# _Vou te passar nossos celulares, é mais seguro _emendou Flávio.
# _Certo. Dita aí. Tá. Obrigada. Zaira, sua data de nascimento da ficha e a do registro de hóspedes não coincidem. Qual é a verdadeira?
# A professora corou e chegou até Luky. Sussurrou algo no ouvido dela, e a gerente assentiu, compreensiva.
# _Calma, gente, já está acabando! _Luky piscou. _Samael, você que está aí quietinho, me diga: esse brasão da família Darcângelo que você desenhou aqui e esse lema “não posso ser mais, não ouso ser menos” são reais, ou você inventou?
# _Bah, é claro que são reais! Os Darcângelo eram a família mais poderosa da Argentina!
# _E por que deixaram de ser? _Mônica perguntou, inocente.
# _Por que agora, eu, o último Darcângelo, vivo na Inglaterra! _ele respondeu, empinando o nariz.
Na sua poltrona afastada, Sir Pete fez um ruído mordaz, e Samael olhou-o sombriamente. Percebendo a tormenta que se avizinhava, Luky tratou de agir:
# _Já que você se manifestou, Pete... Aqui na sua ficha diz que você é aposentado. Aposentado de quê?
# _Várias coisas _o nobre disse, vago. _Trabalhei em muitos lugares.
# Luky arqueou as sobrancelhas, mas o velho lançou-lhe um olhar tão proibitivo que ela voltou-se para Strix, que observava tudo encantada.
# _Última pergunta... Strix, a carta que eu mandei pro escritório do seu pai voltou, você pode me dar o novo endereço?
# _Claro! Mas acho melhor não. O papai vive mudando de escritório, esse último, por exemplo, foi incendiado. Nosso endereço fixo é esse aqui: Castelo Van Allen, Kansendorf, Alemanha.
# _Você mora em um castelo, Strix? Que demais! _Tuppence disse, animada.
# _Não é? O Castelo é propriedade da minha família há séculos. O vovô construiu quando se tornou Barão de Kansendorf.
# _Peraí! Séculos?! Não foi seu avô que construiu?
# _Força de expressão _disse ela, sorrindo. _Vocês podem me visitar quando estiverem nos arredores. É só chegar em Kansendorf, perguntar onde fica o Castelo Van Allen, fazer uma cruz com os dedos e cuspir no chão.
# _Pra que esse negócio da cruz?
# _Pra atrair boa sorte. Kansendorf é pouco mais que uma vila, o povo é muito supersticioso... Se não fizer o gesto de boa sorte, eles irão correr sem te responder. Você acredita que o carteiro só vai no Castelo uma vez por semana e exigiu que a caixinha de correio ficasse do lado de fora dos muros? _sorriu de novo, ainda mais radiante.
# Sir Pete, Samael, Tiago e Luky lembraram-se de Basil e acreditaram sem dificuldade na exigência do carteiro.

# _Novidade, meninas, novidade! _Luky desligou o telefone e disse às outras duas Lucianas. _Responderam ao anúncio de mordomo! Ele vem amanhã de manhã! Se eu estiver ocupada, recebam Mr. Diego Pugliesi pra mim?

# Diego Pugliesi entrou na Mansão na particularmente fria manhã de 28 de dezembro. Antes de entrar, ouviu um uivo lúgubre vindo dos fundos. Olhou bem para a porta e o antigo brasão entalhado no alto. Do lema original, apenas as letras soltas A, C, B, e R eram ainda legíveis, o que dava nome à mansão.
# “Mansão ACBR, hein? Aqui tem marosca...”

segunda-feira, abril 23, 2007

Castro Alves

# Oi, gente! Hoje, resolvi fazer uma coisa diferente e postar uma poesia do Castro Alves que eu acho o máximo: "O livro e a América". Fica aí como um "momento cultural". ;)

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O LIVRO E A AMÉRICA

'Talhado para as grandezas,
P'ra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do Porvir.
--Estatuário de colossos--
Cansado doutros esboços
Disse um dia Jeová:
'Vai, Colombo, abre a cortina
'Da minha eterna oficina...
'Tira a América de lá'.

Molhado inda do dilúvio,
Qual tritão descomunal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa
Um--traz-lhe as artes da Europa,
Outro-- As bagas do Ceilão...
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam para a amplidão.

Olhando em torno então brada:
'Tudo marcha!... Ó grande Deus!
As cataratas -- P'ra terra,
As estrelas -- para os céus
Lá, do polo sobre as plagas,
O seu rebanho de vagas
Vai o mar apascentar...
Eu quero marchar com os ventos,
Com os mundos... co'os firmamentos!!!'
E Deus responde -- 'Marchar!'

'Marchar!... Mas como?... Da Grécia
Nos dóricos Partenons
A mil deuses levantando
Mil marmóreos panteons?...
Marchar co'a espada de Roma
-- Leoa de ruiva coma
De presa enorme no chão,
Saciando o ódio profundo...
-- Com as garras nas mãos do mundo,
-- Com os dentes no coração?...

'Marchar!... Mas como a Alemanha
Na tirania feudal,
Levantando uma montanha
Em cada uma catedral?...
Não!... Nem templos feitos de ossos,
Nem gládios a cavar fossos
São degraus do progredir...
Lá brada César morrendo:
'No pugilato tremendo
'Quem sempre vence é o porvir!'

Filhos do sec'lo das luzes!
Filhos da Grande Nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro -- esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Eólo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a igualdade voou!...

Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Gutemberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...

Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto --
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe -- que faz a palma,
É chuva -- que faz o mar.

Vós , que o templo das idéias
Largo -- abris às multidões,
P'ra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazeei desse 'Rei dos ventos'
-- Ginete dos pensamentos,
-- Arauto da grande luz!...

Bravo! a quem salva o futuro
Fecundando a multidão!...
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo
Brada 'Luz!' O Novo Mundo
Num brado de Briaréu...
Luz! pois, no vale e na serra...
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!...




Castro Alves


sexta-feira, abril 20, 2007

Dr. Douglas Demarante Desabafa

# Olá, olá!
# Mais um texto da Rita!! Este, publico com menção especial por falar da minha querida e adorada Química, daquele jeitinho que só a Rita tem de tratar esses assuntos.
# Ah, o conto tem alguma base científica. Depois dele, coloco um PS a respeito do assunto (se eu explicar agora, cometo spoiler).

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Dr. Douglas Demarante Desabafa
Por Rita Maria Felix da Silva

— Sou responsável pelo maior benefício e mais lamentável crime de todos.
— Verdadeiro, embora paradoxal.
— Quem diabos é você? Nem mesmo posso vê-lo!
— É desnecessário. Existo porque alguns precisam ser escutados. Por favor, Continue.
— Estava em meu laboratório de Química. Gastei a vida estudando essa disciplina. Imaginava encontrar a essência definitiva do universo.
— Uma suposição correta. O que houve depois?
— O que? Desastre! Ao alcançar a essência, tudo explodiu.
— E o resultado é uma Realidade superior a tudo que foi imaginado pelo ser humano. Devia se orgulhar. — aconselhou a voz.
— De que?! — indagou amargamente o fantasma do Dr. Douglas — Criei um maravilhoso novo universo sacrificando o meu...

FIM

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# De fato, existe uma teoria científica (nunca posta em prática, graças a Deus) de que é possível reproduzir um Big Bang em um laboratório. O resultado seria, dos dois, um: ou o Universo seria criado e se desligaria do nosso em questão de milissegundos, ou ele viraria um pequeno buraco negro explosivo e tudo iria pelos ares.
# Como nunca foi testado, nada garante que não poderiam ocorrer as duas coisas. :D
# Corujando também é cultura...

quarta-feira, abril 18, 2007

Bram & Vlad - Perseguição

# Hehe! Agora que já postei os roteiros das tirinhas mais antigas de Bram & Vlad, de tempos em tempo, ponho uma nova.
# Bjins!
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Bram & Vlad - Perseguição

Q1
Três silhuetas de homens correndo ao luar.

Q2
VLAD: Por que sua família persegue tanto o papai, hein?

Q3
BRAM: Ah, sei lá... Ele... Mata pessoas, espalha a espécie dele aos montes, tenta dominar o mundo...

Q4
VLAD: E daí? Tem tanto humano que faz isso melhor que ele e ninguém fica correndo atrás!

Q5
BRAM: ...
VLAD: ...

Q6
BRAM: Ah, mas seu pai a gente espanta com um pouquinho de água benta, né?
VLAD (olhos apertados): Haha...

segunda-feira, abril 16, 2007

Diário de viagem - 3

Oi gente! Pra encerrar, a terceira parte do diário de viagem. Nada de ficarem caçando pelo blog a fora as outras partes, clique naquele link escrito "viagem" debaixo do título e você irá para uma página com as três postagens.
Bjins!

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20/02


8h31min: Chegamos à praia. O calor está de rachar. Resolvemos dar uma volta para tirar fotos antes do Sol estar forte. Encontramos um mini-caranguejo verde, quase fomos atropelados por um bote e subimos numas pedras. O cheiro delas é horrível, já que as pessoas parecem usar as moitas para o nº 2, mas a paisagem é magnífica. Tem um ponto em que você vê só um pedaço de um conjunto de rochas e céu e mar brilhante no resto. Combinamos de voltar à tarde.
9h24min: Voltamos. Estávamos sentados há pouco quando um caranguejinho começou uma saga de fama e terror. Saído sabe lá de onde, ele assustou a Néia, passou no pé da mãe, que voou para trás, passou no meu pé e se enfiou debaixo da mesa. Não gritei quando senti aquelas cosquinhas no meu pé, mas isso não quer dizer que sou durona, eu só não sabia o que era. Com as respectivas câmeras na mão, Eduardo e a mãe começaram a tentar fotografá-lo, mas o bichinho era realmente arisco. Enfiou-se debaixo do monte de chinelos, que deve ter achado que era um monte particularmente colorido de pedras achatadas. Na hora das fotos, ele até ficou quietinho, o danado. Deixamos o nanico em paz sob o chinelo da Pat e fomos para a água, mas nem tudo estava terminado ainda...
9h52min: Estamos na água. Está quente, mas o mar parece uma pedra de gelo! Aproveitem bem, mas sem me esquecer das áreas ardentes em torno do biquíni.
10h47min: Voltamos à barraca para lagartear. A mãe e o padrasto da Vivi apareceram (moram em Cachoeiro do Itapemirim), então me auto-exilei para uma canga no chão. Aproveitei para projetar mais ambigramas e para brincar com a areia, coisa que não tinha feito até então. Minha “obra-prima” foi a frente de um casebre em baixo-relevo. Falando assim, até parece que tinha algo de artístico, mas foi só tapeação.
11h06min: A saga do caranguejinho continua. O Eduardo mostrou o buraquinho onde ele se enterrou, de onde mexia uma areinha de vez em quando. O desalmado do Mateus desenterrou o coitadinho, que saiu correndo para outra mesa. Assustou uma dona e foi para baixo do pé de um homem sentado, que nem se tocou da presença dele. Quando o homem mexeu o pé, ele passou por uma família, que passou a tentar fotografá-lo. Vivi também quis uma foto. Cansado da perseguição dos paparazzi, ele foi se refugiar na toalha rosa-choque de uma moça. Ela e a parceira do lado quase venceram no pulo os cerca de 100 metros até o mar. Só faltava a foto da Vivi, mas o caranguejinho não queria mais saber dessa exposição de sua imagem. Fugiu para uma moita. Lá, Vivi conseguiu sua foto e o pequeno astro, seu sossego.
13h37min: Caí no mar rapidinho para me despedir. O Sol realmente está rachando. Para andar na areia, só mesmo como nosso amigo fotogênico: nas pontas dos pés e bem rápido.
14h20min: Os vendedores de lembrancinhas feitas de conchas não param de passar. Mamãe finalmente comprou seu suspirado conjunto musical de sapos.
17h26min: Já tomamos banho, almoçamos, batemos papo e tomamos sorvete. Mateus e eu jogamos duas rodadas de sinuca, mas sem aquelas regras de tirar bola da mesa, pra render (a R$0,50 a ficha...). O primeiro jogo, perdi com quatro bolas na mesa e levei um século para encaçapá-las, mesmo jogando sozinha. O segundo, perdi também, mas só com duas bolas. Foi divertido. O povo agora está vendo filme. Está escurecendo e eu quero ver quando vamos tirar fotos...
20h37min: Só agora vamos sair. Fotos, necas. Fomos abastecer e tomar uns sorvetinhos. O Paulo está doido para chegar em casa e comer pão com a carne que sobrou do churrasco, tanto que ele foi direto pra casa e só minha família ficou para andar pela praia (os meninos querem tentar pegar um caranguejinho, como o Eduardo fez naquele dia). Pobre Paulo! Acabou se esquecendo que eu é que estou com a chave do quarto onde está a carne... Heheee! Pat e eu aproveitamos e escrevemos nosso nome na areia para fotografar e usar de imagem de exibição no MSN.
23h42min: Direto pra cama!

21/02

6h: Fomos acordados. Não quero acreditar que seis horas já chegou!
7h30min: saímos com atraso. Pelo pai, sairíamos às seis, mas o Paulo foi irredutível, o que lhe valeu o apelido de “noiva”. As últimas visões do mar foram lindas. A essa hora, ele é bem mais azul que na hora em que chagamos, dia 16.
Não muito tempo depois: passamos pelo “O Frade e a Freira”. De perto, até vi o frade, mas a freira...
11h08min: O pai deu a idéia de cortarmos caminho passando por Miraí e Cataguases. Vimos o estrago causado pelo rompimento daquela barragem: barro, barro e mais barro vermelho. As paredes das casas ainda estão sujas, plantações ainda estão cobertas e o rio parece ter só barro no lugar de água. Depois dessa desolação, entramos em uma estrada de paisagens particularmente bonitas, apesar dos buracos.
11h44min: Em Miraí, erramos o caminho e fomos na estrada oposta à que deveríamos ir. É esburacada, mas é linda! Quando passamos por uma placa indicando Sebastião da Várzea Alegre, o Lucas em um carro e o Eduardo no outro começaram a achar que havia algo errado. Viramos de volta para Miraí e pegamos a estrada certa. Apesar da fome, perda de tempo e combustível, etc., a estrada é tão linda que, para mim, compensou.
13h10min: Paramos em Cataguases para almoçar. O Hotel Villas é lindo. É uma construção colonial e, lá dentro, os relógios são de pêndulo, tudo é de madeira escura e tem uma cristaleira num canto. Até a luz é mais fraquinha, para acentuar o ar antigo do self-service. Ah, claro, o mais importante: a comida é boa. Tem doces mineiros e essas coisas.
14h05min: Daí por diante, a viagem transcorreu sem percalços. A rodovia José Calixto Costa (vulga “Estrada do Hélio Costa”) também tem umas paisagens bem bonitas. Essa Minas Gerais tem uns rincões muito lindos escondidos por estradas esburacadas e cheias de curvas. Ainda quero fazer uma viagem por esses lugares bonitos assim munida de uma boa câmera fotográfica e sem homens desesperados para chegar e mulheres eternamente apertadas para fazer xixi.
16h25min: Chegamos em casa. O Jimmy ficou doido, a camisa da Vó Nenega serviu e eu estou exausta. Estou três tons mais morena, cheia de espinhas e muito satisfeita. Pro banho e pra cama!

Coisas que não gosto em praias:

1 – Cerveja
2 – Água de coco
3 – Churrasco
4 – Camarão
5 – Peixe
6 – Ostra
7 – Caranguejo (para comer)
8 – Insetos
9 – Música alta, principalmente Axé, Pagode e Funk.
10 – Bronzear
11 – Areia por todo lado
12 – Queimaduras de sol

Coisas que gosto em praias:

1 – Sorvete barato
2 – O barulho do mar
3 – Caminhar na areia
4 – Sentir o mar batendo nos pés
5 – As paisagens
6 – O calor
7 – Poder tomar banho gelado
8 – Catar conchinhas
9 – Artesanato com conchas
10 – Céu muito estrelado
11 – Entrar no mar

quinta-feira, abril 12, 2007

Bram & Vlad, ou a falta de disquete...

# Ok, Ok, eu sei que tenho que terminar de postar o diário de viagem, mas os benditos computadores daqui não lêem disquete... Tenham um pouquinho de paciência e aproveitem Bram & Vlad, ou, pelo menos, o roteiro.
# Titia Strix, o que é Bram & Vlad?
# "Bram & Vlad" são alguns roteiros para tirinhas de seis quadrinhos. Eles são protagonizadas por dois meninos, Abraham Van Helsing (não o famoso, um descendente dele) - o Bram - e Vlad Drácula II (dispensa apresentações). Fazem pequenas críticas comportamentais. É uma coisa muito desprentensiosa, as duas primeiras foram desenhadas, mas não arte-finalizadas e as outras são só idéias... Mas dá pra passar um tempo.

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Bram & Vlad


Bram: Garoto arruivado de olhos azuis, lenço no pescoço.

Vlad: Garoto com olheiras, presas e uma jaqueta preta.


Hora do jantar


Q1

Vlad chega por trás de Bram e observa-o jogando cinco-marias.

Q2

BRAM: Quer brincar?

VLAD: Sim, obrigado.

Q3

BRAM: Abraham Van Helsing, prazer. Pode me chamar de Bram. É antiquado, mas tenho um parente famoso com esse nome.

VLAD: Vlad Drácula II, futuro conde da Valáquia. Vlad para os plebeus. Encantado.

Q4

BRAM: Drácula? Isso me parece familiar...

VLAD: Claro que é familiar! Meu pai é o vampiro mais famoso dos últimos 200 anos!

Q5

Voz de fora da cena: Vlad, pare de brincar com comida e jante logo!

BRAM (mão no pescoço): Comida?

Q6

Outra voz de fora da cena: Querido, não incentive o Vlad a beber porcarias antes da janta!

BRAM (ofendido): Porcaria?

(continua...)


Porcarias


Q1

BRAM (ainda ofendido): Como assim, “beber porcarias antes da janta”? Meu sangue não é bom o suficiente pra você?

Q2

VLAD: Nem o seu e nem o de nenhum humano. (Q3) De uns tempos pra cá, o sangue anda cheio de hormônios, gorduras trans... (Q4) ...vírus da AIDS, drogas alucinógenas, corantes cancerígenos... Vocês comem muita besteira. (Q5) Se um vampiro beber esse sangue emporcalhado, acaba com indigestão.

BRAM: Ufa... (Q6) Eu sabia que se empanturrar de biscoitos, refrigerantes e batatas-fritas tinha alguma utilidade!


Humanidade


Q1

BRAM: Vampiros matam para se alimentar, não podem ver o Sol e nem o próprio reflexo... (Q2) Você não sente vontade de ser humano, não, Vlad?

Q3

VLAD: Vontade de matar por dinheiro? De destruir o ambiente em que vivo? (Q4) De detonar meu próprio corpo para manter minha imagem na moda? (Q5) Não, obrigado.

BRAM: ...

Q6

BRAM: Vlad, dói muito virar vampiro?


Humanidade (2)


Q1

BRAM: Então, você é feliz como vampiro?

VLAD: Sou.

Q2

BRAM: Mas você não pode aproveitar uma praia quente e movimentada.

Vlad faz uma cara contrariada.

Q3

BRAM: Não pode deitar na grama, de tardinha, para se esquentar...

Vlad baixa os olhos.

Q4

BRAM: Nem aproveitar o pôr-do-sol do ladinho de uma pessoa especial.

Vlad abaixa a cabeça, completamente aniquilado.

Q5

BRAM: Você está bem?

VLAD: ...

Q6

VLAD (mal-humorado): Depois, quando morre gente assassinada, ninguém sabe por quê.

sábado, abril 07, 2007

Texto da Rita

# Comemorando a volta das atualizações, um texto da Rita que gostei muito. Se você não gosta dessa política dos EUA, que nem eu, vai gostar tb. Aproveitem!

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# COMENTÁRIO SANGÜÍNEO
# Por Rita Maria Felix da Silva

# Naquela época, se você fosse um vampiro, viajasse pelo interior de Pernambuco e decidisse parar em São Bento da Trindade, aquela cidadezinha realmente encantadora, uma boa opção era conhecer o bar “A Bela Arte Noturna”. Fácil de achar. Terminando a Rua Brigadeiro Valentino, dobrando a direita e atravessando o Beco Jornalista Olegário Episcopal (que, antigamente, chamava-se apenas de “Beco das Princesas”), você saía logo em frente ao “A Bela Arte Noturna”. Lugar perfeito para tomar algum sangue e relaxar.
# Em São Bento da Trindade, o assunto nunca era comentado, especialmente com forasteiros. A maioria do povo, quando muito, dizia que se tratava só de uma lenda. Ninguém falava do acordo tácito que tornava aquele bar um refúgio para vampiros. Humanos nunca se aproximavam do lugar e, assim, as duas espécies viviam em paz.
# Foi em uma daquelas noites, quando o verão parece que nunca vai acabar e o céu fica esquecido do que é chuva. Olaf Valeriano entrou animado no “Bela Arte Noturna”. Celular colado no ouvido, debaixo do braço uma valise de couro, na mão esquerda um palmtop, onde rodava um videoclipe de Avril Lavigne. Vivia de promover festas para a grã-finagem das metrópoles, mas agora estava de férias. Sorriso no rosto, deliciava-se com o sotaque ucraniano, ao telefone, de Magda, sua namorada virtual, que conhecera na Internet e logo viria ao Brasil. A conta bancária estava cheia, o coração apaixonado, a vida era um tempo adorável para se viver. Sentia-se feliz e com fome também. Alguns copos de sangue seriam bem-vindos.
# Desligou e guardou o palmtop. Sentou-se a uma das mesas, lá bem no canto do bar, afinal queria toda a privacidade para poder continuar conversando com Magda.
# Gritou para o garçom um pedido. Veio um jovem magrinho, tímido, a cara tristonha, como se estivesse se rasgando por dentro com dilemas de consciência. Certamente, um vampiro recém-transformado, imaginou Olaf, e, se havia algo que ele realmente detestava no mundo, era esses novatos.
# O rapaz colocou uma garrafa na mesa, junto com um copo e perguntou-lhe se queria mais alguma coisa. Sabe aqueles momentos em que um tremendo azar tem de acontecer? Olaf estava tão distraído com Magda (ela recitava um poema), que já ia colocar o sangue no copo e beber despreocupadamente, quando algum tipo de intuição o fez olhar o rótulo da bebida.
# O rosto dele mudou de felicidade para surpresa e depois para uma ira selvagem. Despediu-se da namorada, desligou o celular, colocou o aparelho na mesa, ergueu-se devagar da cadeira, soltou um grito animalesco e, com a mão direita, arrancou o coração do garçom. O corpo do rapaz caiu no piso de madeira avermelhada. Olaf jogou o órgão perto do cadáver. Adorava sangue, mas desgostava de carne.
# Os outros vampiros no bar olharam com surpresa para a cena, mas logo voltaram a seus próprios interesses. Não interferir em assuntos alheios sempre foi uma boa política de autopreservação.
# Todavia, um vampiro corpulento saiu de detrás do balcão e caminhou até Olaf.
# — Posso saber por que fez isso? — disse.
# — E quem seria você? — questionou Olaf.
# — Apenas por acaso, — respondeu o outro — Meu nome é Humberto e sou o dono deste bar. Esse rapaz...
# — Esse, — interrompeu Olaf apontando para o corpo no chão — o que tinha cara de imbecil?
# — Esse aí mesmo! O nome era Durval e podia ser realmente um idiota, todavia era filho de um amigo meu, um humano a quem eu devia um favor. Me pediu que transformasse o filho, porque amava o garoto e queria para ele “vida eterna”...
# Olaf sorriu de forma cínica:
# — Ora, considere que nossa espécie não perdeu muito.
# — Talvez não, porém... — Humberto estalou os dedos e quatro outros vampiros, mais corpulentos até do que ele, aproximaram-se — Estes cavalheiros são meus seguranças. Especialistas em desmembramento, aliás. Você entrou em meu bar e, sem provocação, assassinou alguém que estava sob minha guarda. As boas maneiras pedem que lhe dê alguns segundos para que se justifique antes que eu o mate.
# — Uma justificativa? Ora, sou pacifista, anti-imperialista, ecologista, anti-neoliberal, socialista, tolerante com religiões não-cristãs, socialmente engajado, ateu, evolucionista, simpatizante de Castro e Chávez e, observe só, o que foi que seu funcionário veio me servir!
# Humberto pegou a garrafa ainda na mesa e virou o rótulo para si. Ao ler, começou a gargalhar:
# AMERICAN BLOOD. COLLECTED IN VIRGINIA BEACH, VIRGINIA, USA.
# SANGUE AMERICANO. COLETADO EM VIRGINIA BEACH, VIRGÍNIA, EUA.
# Olaf riu junto com ele. Os seguranças e os demais fregueses não entenderam o que estava acontecendo.
# Depois de alguns instantes, Humberto disse:
# — O garoto não sabia. Certamente, foi só um lance de azar.
# — É, vai ver foi isso mesmo — concordou Olaf.
# — Olhe, — continuou o dono do bar — realmente lamento por esse transtorno. Pessoal, — disse se virando para os seguranças — está tudo bem. Senhor...
# — Olaf.
# — Senhor Olaf, eu lhe ofereço uma outra garrafa, sem o inconveniente desta, obviamente, e por conta da casa. Que tal algo brasileiro?
# — Sangue brasileiro? Claro!
# — Preferência de safra?
# Olaf ponderou por um segundo:
# — Piauiense, por favor.
# Humberto virou-se e foi atender o pedido, levando consigo a garrafa que havia motivado toda aquela agitação. Um novo garçom logo trouxe a bebida. Um dos seguranças removeu o corpo de Durval. Olaf sentou-se, religou para Magda e passou às próximas duas horas ao telefone.
# E o restante da noite foi tão tranqüilo e normal quanto era possível para o Bela Arte Noturna.

# FIM

# Dedicado a Kathleen Marienne McHill e Sasskja van Hoojissel

# Apêndice:

# "Bela Arte Noturna, A: muitas vezes usada apenas como 'Arte Noturna' ou simplesmente 'Arte', forma poética com a qual os vampiros definem sua condição, opondo-se à 'condição humana' ou 'humanidade' (daí também existir a nomeclatura 'vampiridade'). Muitos estudiosos, particularmente Schorsey e Killney, não recomendam a expressão reduzida 'Arte', pela possibilidade de confusão com o mesmo termo usado pelas bruxas para se referirem as suas práticas mágicas/magia." (Winterwood, Neil, “A Little Dictionary of the Hidden Things”)

Diário de Viagem - 2

# Aí vai a segunda parte do diário. Bjos!

18/02

8h57min: Chegamos à praia. Frio, frio, frio, frio!! Está nublado e ventando muito. A água está geladérrima e as ondas estão mais altas que na tarde de ontem. Não agüentamos o frio e voltamos para a barraca.
10h09min: finalmente desagüei do queijo empanado.
10h40min: Néia queria entrar na água de novo, mas o frio e as ondas mais violentas fizeram com que ficássemos na arrebentação. Só eu não caí nenhuma vez, mas que levei umas boas chicotadas de água, levei.
11h22min: Pat e eu saímos para catar conchinhas. Colheita boa.
12h40min (aprox.): comi churros (é, viajei isso tudo e acabei nos churros) e chupei picolé. Nota mental: não pedir mais o sabor Kinder Ovo: não é de chocolate.
13h25min: consegui construir na areia alguns ambigramas, inclusive com meu nome. Fiquei com mania deles depois de ler Anjos e Demônios.
14h08min: Voltamos à água para desaguar a mãe. As ondas estão passando acima de nossas cabeças, mas com mais força que de manhã. Numa dessas, agarrei o braço do Lucas e me desequilibrei. Quase afundamos os dois. Saí da água.
14h47min: Por estar sem óculos, me perdi de novo. Ao esperar pela ducha, noto que as pessoas que estão aqui parecem desconhecer termo como “fila” ou “ordem de chegada”. Mais cedo, uma moça simplesmente tirou o Mateus de debaixo do chuveiro e entrou. No meu caso, dois caras estavam querendo dar uma de espertos. Apenas sorri e não permiti que ficassem na minha frente, de forma ostensiva. Acho que entenderam o recado. Finalmente voltamos à pousada. Hoje, sim, quebro meu recorde.
15h20min: estabelecido o novo recorde de almoçar tarde.
Fim da tarde: fomos a Itaipava. Nada a declarar, não saí do carro.
20h: o povo fez um churrasco. A Pat e eu comemos umas bolinhas de queijo meio borrachentas. Não sei de onde saiu a idéia primeiro, mas compramos 30 fichas para sinuca e totó. Joguei totó algumas vezes, mas só ganhei duas ou três: sou ruim demais. Os meninos ficaram nervosos quando comecei a implicar com eles, mas é que eles ficam se achando os máximos ao ganhar de mim e da Pat, mas bem que levaram uma surra do Eduardo e da Néia (o Eduardo joga bem). Por fim, a Néia e a Vivi ficaram sozinhas na sinuca, a Néia só tinha matado a 1 depois de vinte minutos de jogo. Elas trocaram os números na hora de tirar as bolas da mesa por erros, aí foi uma festa. Depois de muito tentarem e não conseguirem nada, decidiram apenas ver quem matava mais. A Vivi ganhou por 6 a 2.
23h50min: Hora de dormir. Tem uma daquelas aranhas pernudas enorme na parede, pouco depois dos pés da minha cama (por que os bichos daqui são tão grandes?!). Espero que não venha para o meu lado.

19/02

2h29min: Acordei. A aranha ainda está lá e não consigo dormir de novo. Tento manter a frieza e não desejar que ela morra. A culpa não é dela de eu ser uma medrosa. Aliás, frieza está difícil nesse calorão. Até que não estaria tão quente se eu não estivesse tentando tampar a cabeça com o virol.
3h32min: Dormi e acordei de novo.
7h27min: enfim, acordei definitivamente. Hora de ir à praia.
9h56min: Saímos da água. Estou sentindo um calor nas minhas costas, acho que finalmente queimei pela primeira vez na vida. Estou igual a um lobo-guará: braços e pernas escuros e corpo avermelhado.
11h39min: Saí para catar conchinhas. Colheita regular. As conchinhas que mais se viam eram umas vermelhas escritas Coca-Cola e umas amarelas escritas Skol. Bitucas de cigarro, dá pra perder a conta. E peixes da espécie pet, então...
12h: Mais ambigramas. Empolguei.
15h05min: Hora do almoço. Aquilo que estava quente nas minhas costas agora arde quando toco.
16h17min: mamãe e Néia estão acabando com as amoras da pensão. Estão uma delícia. Os outros garotos que estão hospedados aqui acharam o máximo tentar pegá-las, já até pularam o muro.
17h: Fomos à feirinha de Itaipava. Ela é bem arrumadinha e tem um monte de coisas baratas. A mãe quer um pijama, mas não tem Visa nas lojas que vendem pijamas. Ganhei um Snoopy feito de miçangas e uma corujinha de conchas muito fofis. Ela vai combinar bem com o ímã de geladeira de coruja que a mãe comprou na praia. É o mesmo tipo de concha da grande, só que pequenininha. Falta um presente pra Vó Nenega e pra Vó Terezinha. Pra Vó Tetê, a mãe achou uns sapinhos. Pra Vó Nenega, uma camisa. Depois de pagar e levar, mamãe acha que não vai servir na vó e que a cor está errada.
18h30min: Já em Itaoca, pedi um chaveiro de concha, uma daquelas conchas bonitas que dá pra “ouvir o mar”. Os meninos disseram que isso é bobagem, dá certo até com copo, mas a idéia de ouvir um barulho parecido com o quebrar de ondas dentro de uma concha é poética demais para ser desprezada. E depois, só pedi o chaveiro porque não estava escrito “Itaoca” na coruja.
Hora em que começou a novela: Saímos para jantar fora. Fomos àquela pizzaria de antes de ontem, dessa vez comemos hambúrguer (a Vivi, o Paulo, a Néia e o Eduardo foram a Itaipava fazer programa de gente sem filho). O nosso garçom, dessa vez, foi um rapaz que se esqueceu qual era nossa mesa e ficou rodando com os pedidos. Ai, ai! No caminho para a pizzaria, a mão comprou um arranjo de concha escrito Itaoca (aparentemente, não sou só eu que faço questão disso...).
23h29min: Numa tentativa desesperada de acabar com a bateria da máquina, estou fazendo vários vídeos, inclusive de mim mesma, escrevendo aqui, escovando dentes... Tirei algumas fotos de bobeira e a bateria acabou mais rápido, mostrando que não é lei de Murphy ela acabar no meio das festas, é o flash mesmo.