segunda-feira, outubro 16, 2006

Dobradinha - 1

Vou postar hoje uma dobradinha: o primeiro texto é de uma escritora que admiro muito e que tem tudo para crescer bastante no ramo: a Rita. Mais para frente, vou escolher alguns dos contos dela que mais gostei até hoje e colocar aqui, mas só quando eu estiver em Barbacena com meu PCzinho lindo do meu coração! (risos)

Segunda Versão
Por Rita Maria Felix da Silva


— Você parece cansada.
— Um pouco. Muito trabalho nessa fase do projeto. E você é muito
preocupado
comigo... Mais que o normal.
— Gosto de você.
— Eu sou casada.
— E está pensando em pedir divórcio de um de seus quatro maridos, não
é?
— Sim, mas não sei quem lhe contou. Olha, você é legal, um bom amigo,
mas...
Deixa para conversarmos sobre isso depois. Veja só: ela está quase
completa!
— Ainda me pergunto porque sugeriram que começássemos com uma fêmea...
— Por favor... Machismo não combina com você. E em muitos mitos da
criação,
por toda a Galáxia, tudo começa com uma fêmea.
— Hum... No caso da espécie dela, havia vários mitos em que o começo é
um
macho. Mas não quero discutir Mitologia. O que importa é que ela atinge
a
puberdade ainda hoje. Talvez antes do crepúsculo dos sóis gêmeos, vamos
poder acordá-la.
— Nós a desenvolvemos do zero a partir de seqüências de DNA. Hoje vai
ser
como o nascimento para ela. Me pergunto como ficam detalhes tipo a
personalidade, a psique...
— Deixa que a equipe de Psicologia cuide disso. Estou com fome. Vem
comigo
ao refeitório? Aproveitamos para continuar aquela conversa.
— Certo.Os computadores podem continuar deste ponto. Vamos lá. Não se
maravilha com o que estamos fazendo aqui?
— É só um trabalho. Me pagam e eu faço.
— Me preocupa a controvérsia envolvendo este experimento, toda aquela
discórdia no Conselho Galáctico sobre o aspecto moral de trazer de
volta,
através de clonagem, espécies extintas. Essa prática havia sido
abandonada
faz muito tempo e nós estamos recomeçando justamente por um dos casos
mais
polêmicos...
— Deixa os políticos brigarem. Sabe, cresci ouvindo histórias sobres os
seres humanos. Nunca me empolgaram.
— Também cresci ouvindo isso. Ora me encantavam, ora me horrorizavam,
mas
sempre fui fascinada por eles. Já tem um nome para nosso espécime?
— E precisa?
— Claro. Lembrei de um mito humano da criação. Acho que poderíamos
chamá-la
de “Eva”.
— “Eva, a primeira da nova espécie humana”. Soa bem.
— Ei, me ocorreu uma coisa: quando ela souber que nós a “fizemos”, vai
pensar que somos algum tipo de “deuses”... Não é engraçado?
— Por favor, não diz uma besteira dessas para mim. Afinal, eu sou ateu.

FIM
Dedicado a Agnes Mirra

Um comentário:

Anônimo disse...

Strix,

Muito obrigada pela atenção para com meus trabalhos e por gostar de meus textos. E muito obrigada por divulgar este texto aqui. Fique a vontade para publicar, sempre que quiser, textos meus.
Rita.